sábado, 16 de fevereiro de 2013

Adendo ao colóquio do Moinho




Carta a Gi Neto


Gi,

Ao sairmos do Moinho D.Quixote, Antonio me disse que a União Europeia foi um belo sonho que não deu certo. Na ocasião, falávamos já das escuras nuvens que se juntavam sobre Frau Merkel. Agora, certamente por razões bem outras, Bento XVI anunciou sua renúncia. Ao que parece nem os alemães estão a dar conta do recado, mas é cedo – sempre é cedo – para fazer previsões.

Meu amigo Roberto Pimentel costumava me contar que, naquela convulsa década de 70 em que a recessão econômica e a impopularidade da realeza faziam os britânicos considerarem pela primeira vez - desde Cromwell - a hipótese de mudança de regime, ele, Roberto, apostava que os únicos monarcas restantes no século XXI seriam o imperador do Japão e o xá da Pérsia. No caso persa, o prognóstico do meu amigo era um autêntico wishful thinking. Ele era fascinado pela imperatriz Farah Diba e duvidava haver gente que não se rendesse a tamanha beleza. Como o mundo veio logo a saber, os sequazes do ayatollah Khomeini não eram muito sensíveis aos argumentos estéticos. Caiu o xá Reza Pahlevi, mas ficaram o imperador do Japão e a soberana do Reino Unido. Sei que você confia ainda na rainha da Inglaterra, mas Her Majesty está tão velhinha... Quase tão cheia de anos quanto o padre acerca do qual Antonio observou tratar-se de um “autêntico seguidor de Cristo”. Parecia-nos ter a idade de quem ouviu parábolas da boca do próprio Jesus...

Os comentários finos e engraçados do Antonio me fizeram rir muitas vezes, mas houve um momento durante o almoço em que o colóquio enveredou para um assunto extremamente sério. Se bem me recordo, e peço perdão se estou a simplificar demasiado, Antonio declarou que a Europa, havendo perdido a primazia política e tecnológica, caminhava para a irrelevância. Você respondeu que os chineses podem construir uma réplica da catedral de Notre-Dame, mas se quiserem conhecer a autêntica, deverão ir a França. Enfim, vocês discutiam o que constitui a força da Europa face aos Estados Unidos, à China e às potências emergentes. 

Joseph Nye, professor de Ciência Política em Harvard, propôs uma distinção que se tornou corrente nesse tipo de debate: o poder pode ser exercido de maneira hard, como manifestação de superioridade económica, técnica e militar, ou pode ser exercido de maneira soft, como capacidade de persuasão com base na atração exercida por certos valores culturais e históricos. Penso que a nossa discussão se coloca no âmbito destes conceitos: a Europa perderá importância mundial pelo declínio do seu hard power ou seguirá como potência incontornável devido a seu soft power?

Por razões pessoais (entre as quais a minha ascendência italiana) e profissionais (sou filósofo formado segundo a tradição francesa e professor de literatura de língua portuguesa), sinto que a história e o destino dos países europeus me diz respeito de maneira profunda. Não vejo a Europa como um campo de curiosidades turísticas, mas como o lugar que me fornece o combustível do pensamento. Como eu disse na primeira carta deste blog, pobres-diabos como eu andam a Europa para aprender. Sempre. 

Por tudo isso, pareceu-me vivamente interessante ouvir dois europeus inteligentes, que conhecem muitos países, apresentarem seus pontos de vista enquanto tranquilamente almoçávamos ao pé do ponto mais ocidental da Europa, num bar simpático cujo nome presta homenagem ao mais universal de todos os personagens da magnífica literatura ibérica. 

Quero agradecer a gentileza que tiveram para conosco e expor algo do que pensei a respeito do colóquio do Moinho. 

1. Os problemas da UE prefigurados na anatomia urbana de Bruxelas

Percebo pouco dos mecanismos económicos e políticos que põem entraves às propostas de solução da crise, mas vejo bem seus efeitos e compreendo a hostilidade dos europeus em relação à burocracia da União Europeia, a começar pelas figuras máximas de Van Rompuy e Durão Barroso – consumados experts na arte da esquivança.

Como amador apaixonado pela história da arquitetura e do urbanismo, sou tentado a ver as desventuras e contradições da União Europeia inscritas ou prefiguradas na paisagem urbana de Bruxelas. 

Deixo de lado o facto bastante estranho de que as instituições executivas da União Europeia tenham sede na capital de um país dividido e de existência problemática, verdadeiro Estado-tampão (assim dizemos no Brasil, não sei se vocês usam tal expressão em Portugal) criado pela diplomacia pós-napoleónica para resolver questões que andam hoje esquecidas.

Também não quero me alongar na recordação do papel sinistro de Bruxelas como capital do mais infame império colonial do século XIX, o que levou Joseph Conrad a escrever: a city that always makes me think of a whited sepulcher (Heart of Darkness).

Bruxelas não é a cidade mais simpática do Universo. O miúdo mijãozinho, único monumento do mundo do qual se podem comprar réplicas de tamanho natural, sempre me pareceu mais acintoso do que gracioso, um anjinho de Rafael que se tornou diureticamente grotesco pelo consumo imoderado de cerveja (que os belgas as tem excelentes, sejamos justos). Muito pior que a incontinência do peralta é a maneira como a especulação imobiliária e a modernização bastarda devastaram o tecido urbano do que já foi a mais setentrional das cidades barrocas. 

Quando se sai da Estação Central, embora a poucas dezenas de metros da maravilhosa Grand Place, qualquer um dotado do mais elementar senso estético é golpeado pela banalidade dos edifícios construídos nos trinta anos gloriosos do pós-guerra. Vi muitas dessas bobagens arquitetónicas em Lisboa, mas longe do centro. Em Bruxelas, elas constituem a norma e avançam até o coração da cidade. 

Como a História se compraz nas repetições perversas e nas inversões tragicómicas, a sinistra capital do rei Leopoldo II veio a tornar-se a insípida capital do império administrado pela Comissão Europeia e pela OTAN. 

É fácil para os burocratas propor políticas de terra devastada quando o horizonte que veem é o da wasteland urbana de Bruxelas.


2. Extra/ ex/ beyond

Se há solução para a crise da zona do euro, é difícil acreditar que ela venha das inúteis reuniões de cúpula em Bruxelas ou das propostas do Parlamento de Estrasburgo. A Cúria de Bruxelas, como a do Vaticano com a qual tem tanta semelhança, limita-se a repetir “Extra ecclesiam nulla salus”, ao que os céticos em geral respondem: “Ex ecclesia nulla salus”.

Tampouco há o que se esperar dos plutocratas que fazem seu convescote anual em Davos, a propósito do qual Emmanuel Carrère e Hélène Devynck publicaram um artigo muito revelador, que li numa revista italiana:

“Uma cosa que stupisce fin dal primo giorno è il profumo di new age che avvolge questo meeting di maschi dominante com vestiti su misura. Il secondo giorno la sensazione diventa inquietante, il terzo non se ne può più, si soffoca in questa nuvola di discorsi e di slogan che sembrano usciti diretamente dai manuali di sviluppo personale e di positive thinking. Certo, non avevamo bisogno di venire fin qui per avere conferma che essere ottimisti è più facile per i ricchi che per i poveri, ma l’inflazione di otimismo, scollegato da qualunque esperienza ordinária, è talmente grande que l’osservatore più moderato oscila tra un’indignazione rivoluzionaria (se si è idealisti) e il sarcasmo più nero (se si è misantropi) (...) Ci piacerebbe scherzare senza ritegno davanti a questi chilometri di comunicati esaltati e ampollosi che invitano a “improve the state of the world”, “expect the unexpected”, “face the talent challenge” o (è il nostro preferito) “enter the human age”. Sì, avete letto bene, grazie a Davos possiamos entrare nell’epoca degli esseri umani. Era ora!
(...)
Qualcuno ha fatto notare l’uso smodato che si fa a Davos della parola “beyond”. L’impresa del tipo che si ocupa dei cocktail si chiama Beyond Liquids. Abbiamo anche il biglietto da visita di qualcuno di cui non abbiamo capito molto bene l’attività, ma che in ogni modo la svolge all’insegna “davosiana” di Beyond Global: sì, al di là del globale. (...) Per quanto ci riguarda, anche se non conosciamo l’indice del numero in cui questo articolo troverà posto, siamo convinti che si parlerà di persone che in Grecia, in Spagna o in Portogallo non sono affato beyond  la disoccupazione, beyond le cambiali a pagare, beyond i guai inestricabili della vita. Probabilmente è caratteristico delle classi dirigenti di tutti i tempi non avere nessuna idea o avere solo delle idee astratte, statistiche, di come vive davvero la gente comune.” 

(Quattro Giorni a Davos,  Internazionale n. 983 18/24 gennaio 2013)


3. Os euro-pessimistas tem razão do ponto de vista prático

A imprensa brasileira, seguindo os jornais de língua inglesa, usa a expressão “euro-pessimismo” para nomear - sem distinções - todas as opiniões negativas a respeito da situação e do destino da Europa, quer venham essas opiniões de europeus ou de não-europeus.

Nesse sentido impreciso, temos euro-pessimistas aos montes no Brasil. Alguns deles, por patriotismo, esperam que o mal da Europa nos proporcione bons negócios; outros desejam revanche pelas regras protecionistas da UE que tanto prejudicam as exportações brasileiras de carne. Exatamente o tipo de gente que acha bem feito que os franceses descubram estarem a comer carne de cavalos romenos ao invés de nacos do bom gado limusino. Também há os que, contrários à colaboração entre as nações da América do Sul segundo o modelo do antigo Mercado Comum Europeu, torcem pelo colapso da União Europeia, que viria bem a calhar como argumento contra o esforço de união supranacional. Por fim, de uns tempos para cá, muitas pessoas, para fazer figura de inteligentes, puseram-se a falar mal da Europa. Alguns são intelectuais que devem sua boa formação às universidades europeias, mas estão ansiosos para cuspir no prato em que comeram. Outros são apenas ignorantões provincianos que arrotam ditos sobre coisas que nunca viram.

Para as finalidades de meu argumento, proponho distinguir entre os que desejam lucrar com a crise europeia e os que desejam uma solução, mas desesperam dela. Na falta de nome mais adequado para os primeiros, chamá-los-ei “euro-abutres”. Aos segundos, reservo o nome “euro-pessimistas”.

Contra a maré montante de euro-pessimismo, tomado na acepção indicada, aparecem por toda a parte os euro-otimistas que insistem na afirmação de que a Europa tem recursos para sobrepujar as dificuldades pelas quais passa. Um exemplo desta linha é o blog Letters from Europe :


In recent years there has never been a lack of prophets, both foreign and domestic, predicting the doom of decadent Europe: Infertile “native” Europeans will be displaced by Muslim immigrants and their descendents, virile Americans and their soldiery are the only things keeping ungrateful Europeans safe or, most common nowadays, the Chinese will economically devour us.
Of course, each of these allegations has their truthiness. They can resonate with our lived day-to-day reality of poor race relations and today’s bad economic times to broader angst at living in postmodern civilization.

However, having consulted the facts, not just the feeling in our guts, let me go on the record: I don’t believe one bit of it. The citizens of the European Union, as a whole, have some of the healthiest, wealthiest, most peaceful and productive lives of the whole of humanity.

In this, we are up there with the rest of what we used to call the “First World”, along with North America and Japan, later joined by a few small East Asian countries (notably Hong Kong, Singapore, South Korea and Taiwan). I would go on to say, however, that not only are the Europeans among this enviable class of nations, but we are, in fact, decidedly less “decadent” than some of our peers. Let me say why.

(In Defense of Decadent Europe: Is it “the best place on Earth to be born”? July 10, 2012)

Outro exemplo é o blog The Edgy Optimist em que Zachary Karabell escreveu na semana passada:

Euro scorn is thoroughly in vogue, in the United States and throughout Europe. You will find no greater dismissiveness than on the streets of London. And when the EU was awarded the Nobel Prize last October, Greeks derided it as a cruel joke. We’re in the midst of economic war and being turned into a colony, scoffed one politician. On Wall Street, I regularly hear traders snicker about the fate of Europe – when they’re not in full panic mode. In Europe itself, the mood is often far darker.

And yet, the union prevails. The point of the Nobel award was to highlight how remarkable an achievement this has been, and what better time to highlight that than at a dark hour. Seventy years ago, European nations were annihilating one another, and they had been fighting bloody wars almost without respite for centuries and centuries. Now, worst-case scenarios have Greece returning to the drachma; Catalonia becoming independent; and London taking leave of an organization of which it has never fully been a part. Today’s worst-case scenarios would have been yesteryear’s dreams.

(…) There is no exit strategy, no Grexit strategy, no viable path to unwind the union or the euro except at such monumental cost that the pain of trying to move forward is a better trade than the agony of dissolution. 

(Another ill-advised rush towards Euro-pessimism, February 8, 2013)

Nos dois textos, a crítica ao euro-pessimismo é correta teoricamente, isto é, do ponto de vista dos princípios e formas que fundamentam a existência da União Europeia: entendimento ao invés de guerra; cooperação ao invés de isolamento; metas elevadas de bem-estar social; intervenção reguladora do Estado na economia; defesa dos direitos humanos. 

Os euro-pessimistas, na acepção que indiquei acima, são justamente aqueles que se irritam com o facto de que esses princípios elevados não foram atingidos a contento ou foram deturpados pelos governos nacionais e pelos burocratas de Bruxelas. A principal razão do euro-pessimismo é a indignação  com a discrepância entre a Europa dos tratados e das proclamações oficiais e a Europa das ruas, a Europa da gente comum. Os euro-pessimistas perderam a sua paciência com essa Europa que dá ampla mobilidade ao trabalhador, mas não dá emprego. Os euro-pessimistas não discordam dos princípios que fundamentam os tratados: eles os querem ver integralmente realizados. Se há protestos, greves, manifestações e movimentos de ocupação, tudo isso é, em verdade, uma exigência de que altos princípios que os líderes proclamam sejam colocados em prática. Os euro-pessimistas querem que a Europa se torne efetivamente a Europa.

Daí a irritação cotidiana que muitas vezes ganha a forma de discurso nacionalista, mesmo naqueles países que sempre foram adversos às patriotadas chauvinistas. É assim que eu leio a mensagem que um furioso leitor holandês enviou ao blog The Edgy Optimist:

Zachary, you must be a EU employee earning +€16000/month plus perks.
Otherwise I suggest that you speak to thousands of pensioners in the Netherlands who see their pension cut down because “we have to do it from Europe”. (sic)

Em outras palavras, o holandês furioso está a dizer: Ó burocratas de Bruxelas, deixai que nossos velhinhos tenham a dignidade que a União Europeia sempre nos prometeu! 

A meu ver, os euro-otimistas tem razão (em termos teóricos) em valorar os altos princípios morais e políticos que fundamentam a União Europeia, mas também os euro-pessimistas tem razão (em termos práticos e morais) quando se queixam de que as coisas não vão como deveriam.

O facto é que, serenos ou furiosos, gregos, italianos, franceses, espanhóis e portugueses sabem muito bem o que lhes falta. E se sabem é porque a civilização construída pelos europeus, ao longo de séculos de conflitos e acordos, conseguiu definir para si mesma e para grande parte do mundo os cânones e padrões de liberdade e bem-estar. E teve bastante êxito na realização desses cânones. Uma prova disso é que, a despeito da gravidade da crise, o padrão de vida médio dos portugueses é superior ao dos brasileiros, e isso não mudará tão cedo.


4. Nietzsche, Orson Welles e os cavalos de Turim

A crise da zona do euro reforçou as velhas especulações sobre a decadência da Europa. A ladainha de Nietzsche, repetida por muitos de seus admiradores, entre os quais os saudosos dos impérios coloniais, é bem conhecida: a democracia, o desejo de paz e a busca de bem-estar destruíram as ousadas virtudes guerreiras que sempre responderam pelas conquistas intelectuais e artísticas dos “bons europeus”. Uma perfeita síntese dessa perspectiva nos foi dada pelo personagem Harry Lime, interpretado por Orson Welles em The Third Man

In Italy for 30 years under the Borgias they had warfare, terror, murder, and bloodshed, but they produced Michelangelo, Leonardo da Vinci, and the Renaissance. In Switzerland they had brotherly love - they had 500 years of democracy and peace, and what did that produce? The cuckoo clock. 

Nesta perspectiva, a decadente Europa se teria tornado uma enorme e tediosa Suiça, totalmente à mercê das hordas de imigrantes, da voracidade dos capitalistas-comunistas chineses, da insensatez dos terroristas islâmicos, da incompetência económica e da mediocridade da classe dirigente europeia. 

Esse tipo de filosofia da história é bastante difundido por acomodar-se bem aos preconceitos de cada enunciador e aos ventos do momento. O método é simples: cada qual escolhe a época que mais lhe apraz, faz dela um quadro ideal e passa a medir todas as outras épocas de acordo com a medida inventada ao sabor do arbítrio pessoal. Usando com desenvoltura o método referido, Nietzsche chegou a escrever que a decadência europeia começara com... Sócrates! (Não é estranho que, mais tarde, estivesse a abraçar cavalos em Turim)

Jean-Christian Lambelet, que atualmente leciona em Lausanne e ainda não foi visto aos abraços com os amáveis equinos, assim avaliou as constantes declarações a respeito da decadência europeia:

Faut-il s'alarmer de cet apparent déclin ? A mon avis, ce genre de spéculations  à la Spengler, Toynbee et Valéry ou, plus près de nous, à la Fukuyama et Huntington fournit une excellente matière pour les conversations de cocktails, mais n'est guère à prendre au sérieux. S'il est vrai que l'Europe a dominé le monde pendant quelque deux siècles, grosso modo du début du XVIIIe au début du XXe, c'était une situation historiquement anormale et nécessairement éphémère. En outre, de bons historiens affirment que l'expansion coloniale dans les régions d'Outre-Mer a entraîné, en fin de compte et par solde net, une perte de substance humaine et économique pour l'Europe. Dès lors, un monde multipolaire, dont les pôles seraient en concurrence et où l'Europe serait un acteur parmi d'autres, est probablement préférable à un monde euro-centrique, y compris pour l'Europe. Plus généralement, la notion même de décadence est une invention d'historiens ou de certains historiens. L'Europe est certes en pleine mutation, comme d'ailleurs le reste du monde, mais toutes les indications qui, comme celles ci-dessus, peuvent être interprétées dans le sens d'une décadence pourraient tout aussi bien signifier la naissance d'une nouvelle société, peut-être meilleure que l'ancienne. 

Ce ne sont évidemment pas les problèmes qui manquent dans les pays d'Europe, de la nécessité de s'adapter  à  un contexte mondial toujours changeant,  à la mise en place d'un nouvel état social, à la nécessité de réaliser un équilibre entre immigration et cohésion sociale, etc. C'est  à ces problèmes qu'il faut que nous nous attaquions sérieusement et efficacement, mais laissons aux historiens des générations futures le soin de caractériser notre époque em termes normatifs. Bref, comme le disait Voltaire, avant toute chose "cultivons notre jardin" - et cultivons-le aussi bien que possible.

(L’Europe, un continente en pleine décadence? Le 30 avril 1997)


5. Acácio e os emergentes

A crise econômica na zona do euro, tão sofrida na Europa Meridional, um dia chegará a seu termo como sói ocorrer com todas as crises. Eis o que prevê o Conselheiro Acácio. No entanto, o poder das nações-continentes - a China, a Rússia, a Índia e o Brasil - não vai parar de aumentar e o poder dos Estados Unidos não vai diminuir, ao contrário do que desejam os US-vultures.

Quase nada sei dos nossos colegas do BRIC. A suposta existência do bloco multiplicou os gestos diplomáticos e as trocas de elogios entre os chefes dos Estados integrantes, mas russos, chineses e indianos e brasileiros seguem como incógnitas uns para os outros.

No Brasil, é cedo para sonhar com grandezas, apesar das ejaculações precoces de alguns exaltados. Nosso esforço ainda é o de superar a miséria, a fome, a violência, o crime, a destruição dos recursos naturais, a incompetência secular de nossa elite e a corrupção política. No instante em que escrevo essas palavras, nossos jornais  anunciam que há 2, 5 milhões de brasileiros fora do alcance dos programas de assistência à pobreza extrema (ou seja, gente que vive sem saneamento básico, com menos de 27 euros per capita ao mês, segundo o critério adotado pelas autoridades brasileiras). 

Há muito por fazer. Os brasileiros devem vencer a sua negligência e imprevidência. Devem superar sua aversão pelo planeamento racional. Devem parar de acreditar que é possível vencer a corrida tomando atalhos.

Os emergentes ameaçam a União Europeia? Sim e não.

Sim, na medida em que os europeus deverão ser criativos para enfrentar à altura a concorrência e as demandas dos países emergentes.

Não, na medida em que o modelo europeu de bem-estar, paz e entendimento parlamentar é superior a tudo aquilo que os países do BRIC podem oferecer. A Europa ainda é nossa mestra. Ela dispõe de muito hard power e é quase inquestionável no soft power. Por isso, chineses, brasileiros e russos se acotovelam diante dos monumentos da civilização europeia. Por isso, o conhecimento das línguas europeias ainda é uma exigência fundamental para os homens cultos de todas as nações do planeta. 

Para nós, é difícil acreditar que a Europa esteja em perigo.


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Antes de parar e pedir perdão por ter sido tão prolixo, quero contar uma anedota verídica. No sábado, depois que vocês nos deixaram no hotel, Ludmila e eu resolvemos dar umas voltas na Baixa. Pegamos o metro ali mesmo na estação Marquês de Pombal e descemos no Terreiro do Paço. Muito embora o dia tivesse sido extremamente agradável, eu andava com o humor um tanto cheio de sombras por conta dos assuntos graves que discutíramos. De volta para o hotel, pareceu-me que as alças em que os passageiros se apoiam no comboio eram pequenas forcas. Fiz uma foto. O que lhe parece?




Lembranças afetuosas ao Antonio e ao Júnior.





4 comentários:

  1. Grande Silas!

    Não pense que me esqueci. Você está me devendo uma pizza e umas boas horas de conversa!

    Abraço do mano velho

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  2. Eu não acredito que você tem um blog e nunca disse nada na sala de aula.
    hahahahahahaha
    abraço Valdelicia!

    Emanuel Marques.

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  3. Olá, Emanuel!

    Que bom te encontrar aqui.

    O meu blog trata de assuntos bem distantes da matéria curricular dos vestibulares. Por isso, nunca achei necessário mencioná-lo em sala de aula. Além disso, gosto que ele seja assim um pouco secreto.

    Um grande abraço!

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